Desde a infância eu venho cuidando do outro. Estar ao lado das pessoas sempre foi algo valioso pra mim, um valor importante e vital. Ao longo do tempo essa forma de cuidado foi mudando e tomando forma. Das bonecas, para os familiares, para os amigos, para os pacientes e depois para os filhos.
Se eu for pensar biograficamente na minha história, foi por volta dos meus 13 anos que isso tudo fico claro dentro de mim. Uma pneumonia me colocou de cama e, com o lado sanguíneo e serelepe em repouso, passei por um amadurecimento sobre este meu propósito de vida. Mudou uma chavinha e eu me percebi desejando cuidar das pessoas como médica.
Em casa, com toda família envolvida pela Antroposofia, tive o privilégio de ter toda minha vida escolar dentro da Pedagogia Waldorf. Do jardim até o terceiro colegial. Aos 16 anos, com o nascimento do meu segundo irmão, nasceu também o meu instinto de cuidar de bebês. Então, no trabalho anual do ensino médio da Escola, onde cada jovem escolhe um tema de pesquisa, dediquei meus estudos de conclusão para assuntos que me fascinavam: gestação, parto e pós-parto. Naquela época, participei até de atendimentos com a parteira antroposófica Angela Gehrke, na Comunidade Monte Azul, em São Paulo.
Em paralelo, estudei intensamente para entrar na faculdade de medicina, em cursinho preparatório. A pressão e cobrança que eu tinha comigo mesma fez meu céu pessoal ficar totalmente cheio de nuvens escuras e o meu ser entrou num lugar muito pesado. Essa tempestade afastou pra longe meu desejo sobre a medicina e, então, acabei optando por estudar nutrição. Ainda nos primeiros meses, a sensação de frustração foi imensa e percebi que devia dar um tempo pra poder encontrar meu eixo novamente.
Aí veio uma onda interna, um impulso forte em direção às minhas origens, que me levou para a terra da minha família, dos meus descendentes. Fui morar na Alemanha. E quase com 20 anos me vi morando num seminário com jovens do mundo inteiro, na cidade Stuttgart. Nessa república, toda convivência e aulas tinham conteúdo antroposófico. Meu estágio foi no Hospital Antroposófico em Filderstadt. Ali, participando de um atendimento de pós-parto, me conectei totalmente ao papel do enfermeiro.
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Ao retornar pro Brasil, fui estudar Enfermagem. Mas então eis que a vida me surpreende. Uma aversão por sangue se fez presente e percebia que eu queria uma formação e também um trabalho humanista. Gostava da conversa, do acompanhamento. Fui vendo o poder do diálogo, da escuta, da troca. E com isso, a melhora que se dava em cada caso. Comecei a ganhar espaço profissional e fui reconhecida e me reconhecendo nesse trabalho.
A formação tradicional da enfermagem ainda não acolhia meu propósito de vida e eu continuava com um incômodo´interno. Foi quando a partir de uma pergunta da minha avó, Dra Gudrun, fui trabalhar na Artemísia. Aos 25 anos assumi a coordenação dos tratamentos terapêuticos. O local era um centro de cuidados da alma, de desenvolvimento humano, com serviços de formação em terapias e atendimento à pacientes. Perto de Paralheiros, na zona sul de São Paulo, a Artemísia era conhecida como um lugar abençoado pela natureza, onde muita gente conseguiu fazer imersão terapêutica de biográfico e formação.
Quando completei 28 anos, a Artemísia fechou e assim, meu caminho se alterou novamente. Voltei ao mercado tradicional. Trabalhei com o médico imunologista Alexandre Nowil, junto de seus pacientes oncológicos, na Vila Nova Conceição. Foi um período que eu entrei em contato com a morte. Foram cinco anos atuando nessa área. Até que eu percebi que, por mais dedicação que eu empregava nesse trabalho, não fazia mais sentido eu trabalhar com a finitude, a minha energia era trabalhar com a vida.
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Sentindo esse chamado interior, entrei na última turma do curso de formação em aconselhamento biográfico conduzido pela Dra Gudrum Burkhard, percursora dessa terapêutica no Brasil e no mundo e, também, minha avó (saiba mais aqui). Os quatro anos de formação, com imersões quatro vezes ao ano, foram intensos e marcaram definitivamente o legado que eu precisava seguir.
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E então, decidida já no meu destino profissional, aos 33 anos, em 2012, recebi a maternidade em minha vida. Engravidei da Laila, minha primogênita, e entrei na vivência do puerpério por 2 anos. Nessa época também mudei para Santos, litoral de São Paulo.
Foi em 2014 que meu foco tornou-se exclusivo para o aconselhamento biográfico, fazendo finalmente então, minha trajetória chegar no meu propósito de vida.